quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Crônica do Amor


Essa crônica é uma das que mais gosto! Deliciem-se!


Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso
contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma
fila de pretendentes batendo a porta.
O amor não é chegado em fazer contas, não obedece à razão. O
verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por
conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é
educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só
referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe
dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam,
pela fragilidade que se revela quando menos se espera.
Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas
que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.
Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e
ela tem alergia a sol, você abomina o Natal e ela detesta o
Ano Novo, nem no ódio vocês combinam.
Então?
Então que ela tem um jeito de sorrir que o deixa mobilizado,
o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar
com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai ligar e não liga,
ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não
emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio
galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado
e ainda assim você não consegue despachá-lo.
Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito
manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve
poemas.
Por que você ama este cara? Não pergunte pra mim.
Você é inteligente. Lê livros,revistas,jornais. Gosta dos
filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma
boa comédia romântica também tem seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu
corpo tem todas as curvas no lugar.
Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de
viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine
ao pesto é imbatível. Você tem bom humor, não pega no pé de
ninguém e adora sexo. Com um currículo desse , criatura, por
que está sem um amor?
Ah, o amor, essa raposa...
Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação
matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem
consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de
indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às
pencas, bons motoristas e bons pais de família, ta assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é!
Pense nisso.

Arnaldo Jobor

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A voz do silêncio


Hoje estou completamente sem voz, afônica... isso resultou de uma dor de garganta de um dia... eu ainda não estava 100% e abusei... daí deu no que deu... Estou agoniada por estar sem voz, pois semana que vem começo os ensaios para a peça "Alvorada para a vida", estou bem animada e feliz com essa oportunidade de trabalho e não quero e não posso estar afônica. E em homenagem ao meu "silêncio forçado" e, espero breve silêncio, segue um poema muito bonito e verdadeiro sobre o silêncio.


Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!


Imediatamente me veio à cabeça situações

em que o silêncio me disse verdades terríveis,

pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.


Silêncios que falam sobre desinteresse,

esquecimento, recusas.


Quantas coisas são ditas na quietude,

depois de uma discussão.

O perdão não vem, nem um beijo,

nem uma gargalhada

para acabar com o clima de tensão.


Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,

pois ao menos as palavras que são ditas

indicam uma tentativa de entendimento.


Cordas vocais em funcionamento

articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos

que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.


Quantas vezes, numa discussão histérica,

ouvimos um dos dois gritar:

"Diz alguma coisa, mas não fica

aí parado me olhando!

"
É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.


É claro que há muitas situações

em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha

com uma britadeira na rua,

o silêncio é um bálsamo.

Para a professora de uma creche,

o silêncio é um presente.

Para os seguranças de um show de rock,

o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,

quando a relação é sólida e madura,

o silêncio a dois não incomoda,

pois é o silêncio da paz.


O único silêncio que perturba,

é aquele que fala.


E fala alto.


É quando ninguém bate à nossa porta,

não há emails na caixa de entrada

não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem


Martha Medeiros

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Deus e eu no palco


Nunca vi ninguém viver tão feliz

Como eu no palco

Sob o holofote

Que ilumina a cena

Deus e eu no palco

Um palco de madeira

Um cenário atrás

De noite o show da vida

Público pra assistir

Deus e eu no palco

Uma hora e meia de espetáculo

Saio do clarão da coxia

Lá vou eu fazer minha cena

Trabalho com a luz nos olhos

A vida é a inspiração

Deus e eu no palco

Não há solidão

Tem festa depois, amigos em um bar

Depois do espetáculo vou ver meu amor

De volta pra casa

Deito na cama a pensar

Ainda ouvindo os aplausos

Eu e Deus no palco

sábado, 9 de janeiro de 2010

Renascer


Renascer a cada rasgo, a cada dor, a cada morte consumada.

Renascer para viver hoje , agora e daqui a pouco.

Renascer, apesar do cansaço, da ferida, do trauma, da desesperança.

Renascer mesmo com a desordem. O caos. A lama. O medo. A solidão.

Renascer para não morrer, desistir, abandonar-me.

Renascer, embora cansada de ser eterna fênix de mim mesma.

Cabocla Jurema


Jurema deu um estrondo que toda a terra estremeceu

Acompanha os companheiros da Jurema.
Ô Juremê Juremá
É uma cabocla de pena
Filha de tupinambá
Rainha das águas e areias
Nunca atirou pra errar
É uma cabocla de pena.

Cabocla
Seu penacho é verde
Seu penacho é verde
É da cor do mar
É cor da Cabocla Jurema
À tarde...
Quando de volta da serra...
Os pés sujinhos de terra
Vejo a cabocla passar
As flores vem pra
Beira do caminho
Para ver aquele jeitinho
Que ela tem de caminhar
E quando...
Ela na rede adormece
O seio moreno esquece
Cobrem o colo de penas
Para ele...
Se agasalhar
A Noite...
Dos seus cabelos
Os brancos
São feitos de pirilampos
Que as estrelas...
Querem cegar
E as águas do rio
Que vão passando
Fitam seus olhos
Castanhos
Que já chegaram ao mar
Com ela dorme
Toda a natureza
Emudece a correnteza
Fica o céu
Todo apagado

Juremá, Linda Cabocla de Pena
Rainha da Macaiá
Ouve o meu Clamor.

Jurema me livra dos perigos e das maldades
Ô Cabocla, tu que és Rainha da folha
Nunca me deixe em falta
Que o teu bodoque seja sempre certeiro
Contra os que tentarem me destruir.

Jurema caminha comigo, ô Cabocla
E me ajuda nesta jornada da Terra.
Jurema que a sua força, junto com vosso Pai Caboclo Tupinambá
Me acompanhe hoje e sempre
Em nome de Zambi,
Salve a Cabocla Jurema!

Okê Arô, minha Cabocla…

Jurema, recebi o teu recado
Aqui me tens atendendo o teu chamado
Diante de ti, de joelho a teus pés,
Rainha da Mata Virgem
Jurema, eu sei que és.

Irmã de Oxalá,
Filha de Tupã,
Da linha de Oxossi,
E da legião de Utubatã.

Jupira, Jandira, Janaina e Iracema.
É a falange suprema.
Da linda cabocla Jurema.

Juremá, Linda Cabocla de Pena
Rainha da Macaiá
Ouve o meu clamor.
Jurema me livra dos perigos e das maldades
Ô Cabocla, tu que és Rainha da folha
Nunca me deixe em falta

Que o teu bodoque seja sempre certeiro
Contra os que tentarem me destruir.
Jurema caminha comigo, ô Cabocla
E me ajuda nesta jornada da Terra.

Minha querida Cabocla Jurema, oceano de bondade,
manifestação suprema da fé e
do amor de Deus para com seus filhos.
a praia é a sua morada, habitat onde renovamos nossas energias.
Irradie sempre sua Luz, em todas as direções

Creio na tua presença a cada nova aurora, marcante, definitiva,
promovendo nosso encontro com a felicidade interior

Ajudai-nos a ver as pedras em nossos caminhos como lições de vida,
mas que possam ser vencidas uma a uma, dia a dia, passo a passo,
através da tua orientação.
que cada amanhecer seja um novo recomeço e possa minha alma conduzir-
se rumo à tua energia

Tuas palavras são marcas luminosas que preenchem as lacunas de meu
coração.
que nos momentos de solidão e cansaço seja merecedor de tua mão
amiga, lembrando-me que tudo passa e se transforma quando a alma é
grande e generosa.

Que no sono reparador minha alma voe contente, nas asas da
espiritualidade consciente, para que eu possa perceber a ternura
invisível tocando o centro de meu ser eterno.
Que a suave brisa de tua vibração me acompanhe, na terra ou no
espaço, como uma inigualável força invisível espargindo fluidos de
amor.

Querida Cabocla, presença Divina do inexplicável, transformai nossos
dramas em luz, as tristezas em celebração e nossos passos cansados em
dança renovadora.

O tempo se vai, mas algo sempre guardarei,
a tua presença, que um dia encontrei…
a sua força, a sua presença e a sua proteção!!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

No Smoking


Cinco minutos antes de estourarem os fogos que anunciavam a chegada de 2010, eu fumei o meu último cigarro. Isso mesmo, decidi que a partir de 01/01/2010 eu não fumaria mais.

Até aí tudo bem, pois eu já vinha me preparando para isso há duas semanas atrás.

As 00:15 minutos peguei o carro e fui para a casa de uma amiga, a Fernanda, até aí continuava tudo bem.

Me deu uma vontadinha no carro, mas tudo muito bem controlável, afinal, cheguei na casa dela em 15 minutos, as ruas estavam desertas. E olha que eu estava indo para a Alameda Jaú, paralela a Av. Paulista, onde estavam mais de 2 milhões de pessoas comemorando o Reveillon. A coisa estava organizada mesmo, nem parecia Brasil.

Cheguei na casa dela doida para contar a novidade do ano de 2010, que eu havia parado de fumar. Contei, ela ficou super feliz, deu a maior força e tal.

Quando peguei o carro pra ir embora, já comecei a pensar que o que eu mais queria era chegar em casa e acender um cigarro na janela da área de serviço, que por incrível que pareça, é o local das minhas meditações.

Cheguei em casa e, apesar da vontade de fumar, eu estava forte na minha decisão. Comi, tomei um banho e fui pra cama. Não conseguia dormir, fiquei lendo umas coisas pra dar sono, o sono chegou e o primeiro dia de abstinência também chegou ao raiar do primeiro sol de 2010.

Até que das 13h até as 18:30 deu pra segurar, pois veio família em casa com minha priminha de 3 anos e passei a tarde brincando com ela. Mas quando foram embora... aí sim começou a tortura, bem como a fartura de comida, pois como todos sabem, uma pessoa que está na luta para se libertar do vício do cigarro, come 30x mais do que normalmente come.

Tenho certeza que já engordei pelo menos 3kg até o momento, e agora, além de lutar contra o cigarro, também luto contra a balança...

Vejam só que ironia... a gente declara guerra contra o cigarro e de quebra vem mais alguns outros exércitos inimigos que juntamente devemos enfrentar. São inimigos por todos os lados. Pois nessa batalha contra o cigarro, vem junto os exércitos da comilança compulsiva, do mau humor, do vazio, da irritabilidade, da tristeza, do não saber o que fazer, da insônia... eu não sabia que o exército do cigarro tinha tantos aliados... Chega a ser covardia todo esse povo contra uma única pessoa... é pressão por todos os lados, mas quem disse que ia ser fácil, né?

Como diz Raul Seixas: “Não diga que a vitória está perdida se é de batalhas que se vive a vida.”. Portanto, cada dia é uma batalha que eu venço, e a vitória sobre cada uma dessas batalhas, me deixa ainda mais próxima de ganhar essa guerra.

Fazendo uma analogia à dificuldade de deixar o cigarro, podemos dizer que assemelha-se a terminar um namoro com alguém que vc ama muito, que vem passando todos os momentos da sua vida com você, momentos bom e ruins. Que é seu parceiro de todas as horas, que te compreende, que não te julga e que te faz sentir bem e feliz. Que te relaxa, te acalma, te acompanha em todos os tipos de emoções que vc sofre. Que te faz companhia, que não deixa vc se sentir sozinha.

Mas tudo isso é meramente psicológico, coisas que a nicotina colocou na sua cabeça. É tudo irreal, ilusório. A nicotina te domina e faz vc pensar naquilo que ela quer que vc pense. Enquanto vc se acaba de fumar compulsivamente detonando a sua saúde e se tornando uma pessoa fedida, a Souza Cruz e a Philip Morris vão ficando cada vez mais milionárias com o seu vício, com esses trouxas que eles manipulam. Daí vc fica doente e os hospitais lucram ainda mais com vc. Vc morre e as funerárias lucram com vc. To achando que se trata de uma quadrilha...

Mas a gente acaba pensando... poxa... a vida já é tão difícil e a única coisa que nos resta em alguns momentos é o prazer de acender um cigarrinho e pensar na vida na companhia dele. Ou até mesmo acender um cigarro na companhia de um grande amigo enquanto vcs batem aquele papo gostoso. Se abrir uma latinha de cerveja junto então... daí é prazer ao quadrado.

Mas apesar de tudo isso que no momento pra mim é bom demais, quero redescobrir o prazer da vida sem o cigarro, que o natural é viver sem ele. Quero ter nojo, asco, achar ridículo, uma bobagem sem tamanho.

Mas enquanto esse momento não chega eu preciso lutar contra a crise de abstinência. E para quem quiser me ajudar, basta me dar de presente um perfume importado, chiquetérrimo. Eu passarei o perfume todos os dias. Sendo assim, claro que eu não deixarei que o cheiro do cigarro atrapalhe o maravilhoso aroma de um perfume que custou uma pequena fortuna, né? rs